quinta-feira, 3 de março de 2022

Os motivos de Nene ter ficado tanto tempo solteira- atualização

 Há quase 10 anos escrevi sobre os motivos que eu considerava serem a razão da minha solteirice. Hoje entrei no blog por conta de um comentário spam e me deparei com essa postagem e decidi atualizar.

Sou uma mulher inteligente, dona do meu nariz, independente e insegura. Sim, insegura! Muitas feridas deixam marcas que tornam a gente mais ressabiada. Eu sempre disse que a dor é o ônus do amor, porque amar dói mas é absurdamente bom! Mas recentemente me deparei com medo de amar, de me entregar... Na verdade estava com medo (ainda estou rsrs) da dor de ser rejeitada, de ser considerada "pesada" como já fui muitas vezes. E isso criou um mecanismo de defesa em mim onde eu fico procurando problema, pelo em ovo se assim você preferir chamar. Fez com que eu fique mais atenta a qualquer sinal de que serei deixada. Por óbvio que os sinais são meus, porque sou eu quem os vejo e analiso. 

Não saberemos nunca o que uma pessoa pensa se não perguntarmos para ela.

E de não perguntar em não perguntar eu fui me afastando e afastando todo mundo que chegava perto. Ou pior, me aproximava de quem eu não queria tanto assim porque, de forma inconsciente, eu julgava que iria doer menos quando fosse deixada. Observe que eu sempre achava que iria ser deixada, em parte porque não me achava alguém digna de ser amada (também de forma inconsciente).

Nosso inconsciente age para nos manter vivo e vai nos afastar de tudo aquilo que ele considerar perigoso, segundo nossas experiências vividas. E a gente reage ao mundo sem saber muito bem o que está acontecendo e os porquês de reagirmos assim ao mundo.

Isso era uma parte dos motivos. O outro motivo uma moça bonita me mostrou apesar de 40 anos de

resistência e cegueira para o que estava na minha cara o tempo todo: eu sou homossexual. Sim, demorei 40 anos para ter certeza apesar de todas as evidências a minha volta. Como eu disse no parágrafo anterior: nosso inconsciente age de forma a nos afastar das coisas que podem fazer a gente "morrer" (de fome, de falta de afeto, de rejeição).

O fato é que ninguém morre por ter se frustrado. Frustação não mata, por mais que pareça que a gente vai morrer, não mata!

Há quase três anos encontrei minha tampa da panela, uma mulher inteligente, companheira, carinhosa e que é minha "parça" para tudo na vida! Lógico que há algum tempo atrás eu fugi dela, porque tinha certeza de que ela não me amava mas ela correu atrás e me provou que me ama sim e que me quer sim!

Nenhuma de nós duas somos perfeitas, temos vários defeitos e várias qualidades, mas somos perfeitas uma para a outra porque estamos dispostas a caminhar juntas, faça chuva ou faça sol! E eu acho que isso é que é amar, isso é que é estar em uma relação.

É isso!

beijocas carinhosas,

Nene

terça-feira, 16 de julho de 2019

Mudança e recomeço

Como toda mudança não adianta ter pressa. Tem que tirar tudo da caixa e ir achando um novo lugar pra cada coisa. Isso mesmo! Não se joga nada fora porque guardamos tudo mesmo, seja no consciente ou no inconsciente. Guardamos e se não dermos um significado ou um novo significado essas coisas que não sabemos o que fazer com elas viram fantasmas assustadores.
Há coisas, pessoas e sentimentos que não cabem mais em seus lugares originais mas cada pessoa significativa que passa por nossa vida deixa um pouco de si e leva um pouco de nós.
O que ela deixa na gente é nosso. São sentimentos, emoções, marcas gravadas em nós pela convivência ou experiência vivida.
E o que fazer com essa parte que o outro deixou na gente?
Achar um novo significado pra ela, sentir novos sentimentos, entender o que se ganhou e o que se perdeu.
Na psicanálise chamamos isso de ressignificar.
E não adianta buscar solução instantânea (mágica) nos livros de autoajuda, nas mudanças exteriores ou outra coisa semelhante.
Assim como toda mudança o recomeço da trabalho, dói, é demorado mas vale a pena!
Bjo

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A dor é o ônus do amor

As frustrações começam na nossa vida junto com a gente. Há quem fale que já começam no útero, mas o fato é que conforme a gente vai se frustrando a gente vai aprendendo a evitar a frustração pelo simples fato de ser um desprazer e somos criaturinhas em busca de prazer.
A cada decepção amorosa vamos ficando com mais medo: medo de ser rejeitado, medo de não ser bom o suficiente, medo de não ser aceito, medo do pé na bunda via WhatsApp, medo de ser bloqueado nas redes sociais, de ser excluído, de não ser amado... E como consequência desse medo vamos aprendendo novos mecanismos de defesa para evitar a dor: negamos, recalcamos, reprimimos, racionalizamos, projetamos, transferimos, enfim, gastamos uma energia imensa, nos desgastamos apenas para não nos frustrarmos.
E isso tudo não começa no primeiro namoro não! Começa com nossos primeiros amores, com a necessidade de atingir as expectativas que acreditamos que "papai e mamãe" possuem sobre nós e que nunca conseguimos alcançar porque acreditamos que eles desejam a perfeição, acreditamos que somente se formos perfeitos eles poderão nos amar. Acontece que acreditamos nisso porque idealizamos nossos progenitores, os vemos como criaturas perfeitas e isso fica gravado no nosso inconsciente infantil e cresce lá, paralisado, mesmo quando percebemos que eles não são perfeitos. E transferimos isso para os nossos relacionamentos (todos eles: amorosos, familiares, de trabalhos) e seguimos buscando a perfeição para sermos amados, aceitos, incluídos.
Problema número um: A PERFEIÇÃO NÃO EXISTE! Somos perfeitos em nossas imperfeições pois aprendemos com a dor, com os erros. Quem não tenta por medo de errar nunca vai acertar.
Problema número dois: evitamos a frustração então transferimos para o outro os defeitos que acreditamos ter como a famosa frase "eu nunca vou ser suficiente para você". Tanto a transferência como qualquer outro mecanismo de defesa estão pautados na fantasia, naquilo que acreditamos que poderá acontecer se não fizermos algo. É como se um grilo falante ficasse martelando na nossa cabeça "Você vai sofrer de novo! Não faça isso!" mas SÓ SABEREMOS SE VAI DAR CERTO SE VIVERMOS.
Eu sei... É horrível a sensação de fracasso! Acredite! Eu sei bem!
Primeiro a gente precisa se conhecer, olhar bem de frente para quem a gente é, do que a gente gosta e do que não gosta. O que é mais importante para você? Quais são as coisas/pessoas essenciais para você e sua felicidade? Essas coisas devem vir em primeiro lugar na sua vida. Essas pessoas devem ser sua prioridade. Não se permita ficar com alguém que não te permita ser quem você é! E antes de mais nada: TODO MUNDO TEM DEFEITOS! Isso não é uma exclusividade sua ou minha! Acredito que amar alguém é amar o todo, até as coisinhas que nos irritam mas que são parte da pessoa que amamos.
Não tente mudar ninguém! Nunca dá certo! Uma pessoa só muda se ela desejar e essa mudança nunca é fácil ou rápida. E não se muda a essência do que se é. Se você não gosta é melhor procurar outra pessoa.
Faça o teste da realidade toda vez que você inferir. Se você acha que a pessoa vai te abandonar no exato momento em que você se apaixonar e se entregar é hora de se perguntar quais atitudes e palavras te fizeram achar isso. E caso a dúvida persista pergunte à pessoa o que ela quer com você ou quais são os planos dela para o futuro (e veja se você está incluso nos planos).
Vivemos em um mundo amargo cheio de pessoas presas em suas redomas e que se negam viver, se expor, dar as caras porque estão ocupadas demais tentando evitar frustrações e não percebem que estão deixando de viver, deixando de lado momentos felizes por medo dos momentos tristes. Sério!? Viver é isso? É um constante se proteger de frustrações? E quando e que você vai ser feliz?
Não.... Não é possível viver sempre feliz! Frustrações fazem parte da vida e são importantes porque nos fazem mais fortes afinal, não morremos depois de nos frustarmos. Sofremos e seguimos a vida, tropeçando e sendo feliz, com deve ser!
Bjo
Ne

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Afaste-se de todo cara que te chamar de louca

Afaste-se de todo cara que te chamar de louca porque isso é um forte indicador de que, ou ele não está afim de você ou ele tem comportamento abusivo.
A menos que você faça escândalos pra vizinhança ouvir, o ofenda ou agrida sem razão aparente esse é meu conselho: afaste-se.
Minha experiência de vida me mostrou que toda vez em que estou  apaixonada gosto de gestos que demonstram carinho. E sempre que não estou qualquer gesto de carinho mais audacioso, digamos assim, parece-me invasivo, me incomoda. Percebo isso também nos relacionamentos que tive pois naqueles em que a pessoa não sentia o mesmo que eu, ou seja, naqueles em que eu me apaixonei sozinha, tornei-me um incômodo.
Porque quando a pessoa te quer do lado dela toda visita inesperada é bem vinda, toda declaração de amor é bem recebida e há um esforço de ambos para estarem juntos. Quando ambos estão em sintonia, apaixonados, o amor é servido sem moderação.
E como disse sabiamente Nina Simone:
"Você tem que aprender a levantar-se da mesa quando o amor já não está sendo servido."
Respeite-se!
Bjo
Ne

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Eu, minha neurose e minha baixa auto-estima

Eu sou um tipo de pessoa a qual, na maior parte do tempo, as pessoas querem ter por perto. Na outra parte do tempo sou chamada de louca...
Eu tento agradar a todos e sempre tento mostrar a quem eu amo o quanto essa pessoa é importante pra mim, seja dormindo no chão pra que ela possa dormir no conforto da minha cama, seja ficando até 3h da manhã numa delegacia porque o carro da pessoa foi roubado, ou passando noites em claro na sala de espera da uti. Sou o tipo de pessoa capaz de aparecer  de madrugada na casa de uma outra pessoa apenas para lhe pedir desculpas pelo modo como me portei, só pra mostrar o quanto ela é importante pra mim. Sou capaz de gastar todo o dinheiro que eu não tenho mandando entregar flores em uma data especial e, nessa mesma data, encher a pessoa de presentes. Só pra mostrar o quanto ela é especial.
E essa é a parte que algumas pessoas gostariam de ter por perto.
Fonte da figura: http://lh6.ggpht.com/_b30UdsnDMA8/TWz-hP-VopI/AAAAAAAADOI/GQAMQAptJ_Y/cisne-negro1_thumb.jpg?imgmax=800
A parte que é chamada de louca e que ninguém quer ter por perto é a parte que acredita que os outros farão o mesmo por mim. É a parte que fica esperando o interfone tocar depois de uma briga tarde da noite e dorme chorando porque ninguém tem tão baixa auto-estima a ponto de se rebaixar e bater na porta de alguém que acabou de terminar com você. Só eu tenho. E me frustro porque não sou capaz de avaliar o outro sem olhar através de mim, porque crio expectativas irreais sobre as pessoas. Acredito que farão coisas que jamais passou pela cabeça delas fazer... Valores e cultura moldam nossas ações. Não é culpa do outro se ele não atendeu uma expectativa sua e que você não informou a ele.  O que é importante pra mim pode não ser pra você e é aí onde começam as diferencas e os conflitos.
Não era capaz de avaliar o outro até agora. 
Estou começando a entender que é preciso que eu não vá invadir o espaço do outro no meio da noite, que só gaste o que eu tenho e, principalmente, que eu não espere mais do que o outro pode me oferecer.
Estou procurando uma forma de olhar o outro como ele se mostra, sem espelhar nele o que sou para que eu não espere das pessoas coisas que elas nunca pensaram em fazer.
Por enquanto decidi que vou usar apenas o dinheiro que tenho pra comprar um presente pra alguém, mas não sem antes satisfazer as minhas necessidades. Vou falar não quando não tiver vontade ou quando considerar que a proposta não é boa pra mim. Vou pensar mais em mim porque descobri, depois de 41 anos, que se eu não fizer isso ninguém vai fazer por mim.
Bom, pelo menos vou tentar com afinco.
Beijossss,
Ne

sábado, 20 de dezembro de 2014

O imprevisível

Sempre desconfiei que as melhores coisas, as alegrias mais sinceras, as risadas mais alegres e os beijos mais gostosos não são calculados, nascem da espontaneidade do amor.
Quando a gente menos espera e de quem a gente menos espera. E quando acontece você começa a perceber os toques sutis que o universo te dava, e até mesmo você. Siiiim! Seu inconsciente descobriu que estava apaixonado antes do seu consciente!
A gente vai se acostumando tanto a se magoar, a fugir, a disfarçar para não cair de novo nas redes do amor que quando cai de verdade nem percebe!
E não adianta calcular o gesto, a fala, o olhar!
Simplesmente acontece, sem perceber dois olhares se cruzam e decidem alí mesmo, sem a nossa permissão, a viver o resto da vida juntos, ou até que o amor chegue ao fim.
bjos

quinta-feira, 27 de março de 2014

Um pequeno afago e uma ligação de madrugada


Preciso de um afago. Sei lá que nome que se pode dar para qualquer carinho. Eu preciso, sei disso. Preciso que me ligue de madrugada, mesmo que por engano. Preciso que me diga alguma coisa que estou querendo ouvir. Preciso de algumas verdades, bem lá no fundo da alma; alguma crítica. Preciso de tudo, menos da indiferença. Precisar assim parece tão piegas, não? Nós, homens, não nascemos para dizer tudo que estamos sentido. Ficamos fracos, indecisos e falidos. Voltarei para o sono, mais alegre com seu pedido de desculpa. Foi um engano, queria ligar para outra pessoa, não é? Mas já que me acordou: como você está? Voltarei aos sonhos, aqueles que não me acordam de maneira assustado. Quero, por momento, suas palavras; tua verdade. Queria tantas coisas, que não sei muito bem relacionar. Amor platônico, que contém um pouco de ódio; que ninguém explica direito. Meu amor funciona mais quando sinto saudade.

Vai deixar um recado?

E você desapareceu. Desapareceu por meses. Pensei que, punindo-me, era eu o culpado. Sou eu, pretensiosamente, inocente. Não existe culpa, não é mesmo? Não te vejo mais por ai, nem tivemos mais conversas tão francas. Bom, conversamos outro dia, mas não dissemos nada além do normal e cotidiano. Somos tão amigos como pensávamos? De ontem para hoje fiquei na dúvida. Eu não acredito em dúvidas, pois elas não são meias certezas. Amigos ou não? Ora. O tempo tem tanto poder, mas não nos serve mais. Não somos amigos, já faz tanto tempo que não nos vemos. Sabe o afago? Ele continua intacto, tão distante de nós. Vai deixar um recado? Eu sei que você discou o número errado, que é de madrugada; que com mil desculpas disse que não queria ter me acordado. No fundo da história, lá no final do capítulo; eu sei que você queria ligar para mim, mas já não há mais jeito. Eu queria um recado, um convite; mas a madrugada é tão dura com nossos desejos. Você deve estar pensando o mesmo que eu: não vale a pena.

Pois é, não notamos que ficamos tão ausentes. A nossa música nunca mais tocou – os poetas sempre me ajudam nessas horas tristes. Não percebemos a mudança da cor do cabelo, nem o regime que deu certo. Não trocamos idéias e palavras novas, que aprendemos com aquele livro que estávamos lendo juntos. (Eu sempre quis escrever bons livros; mas, medianos, ficaram encostados na estante de sua prateleira virtual). Vivemos tanta coisa separados que não há realmente qualquer novidade que, de uma hora para outra, nunca mais trocássemos meia dúzia de palavras. É tarde demais, eu sei. Mas a madrugada é dia de insônia, hora de pesadelos; rodar na cama sem destino. Ainda quer fazer parte da minha vida? Eu só preciso hoje de um afago, de um carinho; para tudo isso que as mulheres dão nomes interessantes e os homens acham tão bregas.

A vida tão certa é tão ridícula, mas essencial.

Estou precisando ser pedinte, pedante. Vai deixar um recado? Não importa a data, nem as novidades. Ligue, escreva e sorria. A novela está chata e a comida sem sal. Tem alguma música que não sai da sua cabeça? (Nessa hora o personagem sai da cena, fica apenas a mesa e o narrador. Luz que caminha junto ao som do rádio que toca uma música da Elis Regina. Não seu qual delas, mas é triste. E num lance qualquer estou dormindo, sem que ninguém perceba). Estou com aquela saudade que passa rápido, que dá uma sensação de cansaço na hora do sono, como coisa que não aconteceu, mas é sonho que poderia ter sido. Estou precisando mesmo que lembre de mim, pelo menos as coisas boas.

Vai deixar recado?









quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um cigarro, por favor

 

Daí você acorda três horas da manhã. Lá fora um silêncio modesto. Sinto sede. Queria um cigarro. Levando da cama e vou até a janela. Olho para a cama vazia: você não está. Quanto tempo faz? Não sei. Não consigo determinar certas mudanças na minha vida.  A solidão como tema principal das minhas queixas é coisa recente entre os amigos, mas não sei quanto tempo faz. Nunca toco no seu nome, mas todos sabem minha verdadeira aflição. Queria um cigarro nessa solidão. Volto para a cama, procuro um livro na cabeceira: tem uma bíblia pequena que eu ganhei de um amigo protestante. Será que a história está resumida? Tem outro livro, que eu parei na metade. Uma revista sobre celebridades. A revista é herança sua.

O livro?

Vou até a cozinha. Não estou com fome, mas também não estava com sono. Poderia trocar a pizza gelada por uma noite bem dormida? Sinto sua falta, Juliana, mas não quero dizer isso para ninguém. Escreveria um livro sobre minha mal escrita relação com você? Talvez mereçamos essa consideração. Um pedaço de pizza, um copo de água gelada. Quanto tempo eu não durmo direito? Vou até a sala, procuro algum filme interessante na estante: “Terceiro Tiro”, “Paciente Inglês” e “Zabriskie Point”. Confesso que não tive coragem de ficar com você, enquanto você assistia aos filmes. Dormi antes dos dez minutos. Sabe? Naquela época eu trabalhava muito, descansava pouco. Dormir em seus braços era uma coisa que me deixava vivo.

Somos antagônicos, muito diferentes. Mas ambos, hoje, tão igualmente solitários. Queria te ligar, mas você não vai me atender. Quer saber? Concordo que realmente o remédio é o tempo. Não que eu tenha qualquer esperança que voltaremos a formar um casal feliz. Esse negócio de tempo é uma grande bobagem, na maioria das vezes. Entendo; muitas vezes esse afastamento serve para colocar a cabeça no lugar, mas é terrível quando desalinha também o coração.  No sofá da sala, sem sono e sem fome; nada na televisão: nesse momento penso em você, mas penso diferente. Você não é mais aquela pessoa que eu amava,  e qualquer coisa que fizéssemos agora; seria um recomeçar do zero, um renascimento, que poderia vingar ou não. Seria como se fosse ter que apreender amar você novamente.

Quer saber? Acho que você está acordada pensando a mesma coisa que eu. Levanto do sofá, corajosamente. Você na cama ainda acordada. Você me viu cheio de febre, fome e abstinência? Odeio saber que você está ai, como se não estivesse. Vamos nos ajeitar? Senão vou embora para sempre. Eu seguro o seu ombro, olhamos um para o outro. Odeio quando você chora, odeio quando eu não consigo chorar. O que fizemos de nossas vidas? Onde estão nossos sonhos?  Nossos sonhos são tão distantes? Queria alguém para me acompanhar, quer alguém para assistir um misero filme. Vamos dormir? Eu te abraço, mas não consigo dormir.

De manhã: a vida como nunca. Tudo muito igual. Saímos juntos para o trabalho. Fico no meio do caminho, você segue adiante. Vamos almoçar juntos hoje? Eu não posso, tenho uma reunião; você não pode, tem uma desculpa tão real quanto a minha. Nós nos evitamos. Mas isso é fácil, de dia; quando nossa cabeça está cheia de problemas, resoluções e números. É fácil quando estamos com outras pessoas, pensando em outras coisas. Mas quando estamos juntos? Quando no quarto, você decide apagar a luz do abajur e não diz uma única palavra?

Ia perguntar se você tinha um cigarro, mas estamos longe novamente.




quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Amores compreendam



Então, olhando para o meu corpo nessa inutilidade, resolvi escrever mais uma carta: Carta sem destinatário certo, mas preciso. Uma carta que reflita sobre o amor, freudiano ou não, cara amiga. Freud pode explicar o vil, mas não me comove. Não me comove suas sublimações, de corpos que se atiram em outros corpos; a fim de enriquecerem seus meios, para fins que não se justificam mais. O amor, como qualquer outro sentimento, não se compensa. Então, na minha inércia, olhando para o tempo que corre, vi sim o amor de forma diferente; mesmo assim ainda indefinido. O conceito do amor, nos séculos, ainda requer um manancial de práticas, entre as mais densas florestas, os mais exóticos animais.

O amor é uma estranhíssima sensação de perda, mesmo quando supõe ganho e recompensa.

Decerto a preguiça, nesses meus dias de infame rejeição ao mundo, tenha me ajudado a acolher melhor o amor, dando-lhe a intensa e verdadeira anistia da hipócrita manifestação de bem-estar. O amor, esse que nos conhecemos vulgarmente como paixão, é o maior retrato de todos os pecados humanos; mas não pode ser classificado como satisfação. O amor que chamamos de paixão, é resultado de emancipações químicas, de olhares curiosos; dores enigmáticas e sabores conflitantes. É alquimia do cigarro na mesa, da comida salgada e saborosa; das conversas sobre os quadros calóricos e intensos de qualquer pornografia vulgar. O amor, que chamamos de paixão, é a redenção da masmorra do corpo, quente e queimando nos dias cotidianos e indigestos.

Mas, dentro da mesmice do balançar da rede, onde me encontro agora; vejo outro amor. Esse amor insaciável na multiplicação de sua divisão. Um amor que não requer contas das horas, nem interferência dos meses; sequer rompimento físico. Esse amor sublime, ágape; divino e bíblico; que por agora nos sacia na ausência; subjuga o básico; determina o infinito. Amor que dá a vitória, nas mínimas coisas, olhar para as nuvens que se formam. Será possível amar alguém com parâmetros tão extravagantes? Amar alguém como se ouve a cachoeira, como quem se infiltra na noite velada em pensamentos utópicos, de voo para o céu estrelado? Amar alguém como o mundo, em sua esfera interplanetária, nos ama?

Amores compreendam, eu nasci  para outro amor.

A carta, que começa ter contornos filosóficos, jamais explicaria o amor para quem quer apenas as entrelinhas dos relacionamentos humanos. O amor aqui, sem requinte de gramática, muito menos encorpado pela boa redação; é mais devaneio que palavra; mais poema que prosa. Portanto, não retornem uma linha sequer para traduzir qualquer sentimento, pois as letras foram ditas ao sabor das ondas; da direção dos ventos; um sono profundo de final da tarde. A carta, como disse, sem destinatário, parece querer mais ainda ser sem remetente, sem determinismo; sem qualquer descrição autoritária; mas assim, desse modo impensado, ser apenas sentida.

Mostrar que o amor pode estar em diversas formas que nunca compreendemos.





segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A podridão dos amores incomuns



Vim aqui para destruir. Quem quiser me acompanhar, daqui para frente, deve saber uma coisa: não serão palavras bonitas. Quem continuar, nas próximas linhas; ainda que em caráter de curiosidade, deve se precaver: serei extremamente arrogante, incomum; verdadeiro. Talvez a época do ano, onde o sentimentalismo queira falar tão alto ou talvez a Nova Era. Sentimentalismo uma ova! Queremos é mais!

Homens e mulheres querendo de forma igual, mas em matéria diferente. Homem biológico, mulher botânica. Nova Era?! Que se dane o novo ser humano, ele ainda é primitivo demais para ser albergue da própria alma. O ser humano precisa amar! Mas o amar não tão singelo, nobre. O amar do rompimento! Amar da própria paixão. Amar da inconsciente paixão! Amar de errar muito, mas acertar quase sempre. Errar da cobiça, dos sete pecados; amar infernal.

Homens precisam demonstrar “autorretenção”. Caíram demais na ladainha feminina, de príncipes e coisa e tal. O homem nobre fracassou, hoje está no ostracismo da sala, assistindo um filme idiota. Homem precisa fincar território, como cachorro que mete os pelos pelas mãos e mija em todo canto do quintal. Homem que é homem precisa morder, ainda que de leve, ainda que consentida mordedura. Precisa marcar sua presa, mais além, marcar sua presença. As mulheres estão sentindo falta desse homem primitivo, de amor impensado e horas indeterminadas: cozinha, banheiro; com colchão ou não.

Mulheres sonsas são mulheres tão mais solitárias que as atiradas. A mulher que se entrega sempre; merece não se entregar nunca. Tem que ser determinada, objetiva. Menos Atenas, mais Amazonas. Mulher que quer porque quer, quase sempre não diz e convence ser servida. Mulher precisa pedir o esporro; decidir pela hora do xingamento; querer muitas vezes ser atrevida. Mulher que se atreve é complicada, mas também salutar. O casal agradece.

Mulher e homem estão numa mesmice de dar dó. Mas o homem anda perdendo território; sempre digo isso. Homem que é o sexo menor, menos conformado; mais exigente. Mulher não se conforma com uma porção de coisa, mas nunca pelo fato de ser mulher. Algumas mulheres até gostam da presença das mulheres (como homens se sentem bem com os homens). Mas nesse caso, sujeito específico do meu falatório: heterogeneidade dos sexos. Falo por causa própria: adoração pelas mulheres. A mulher se conforma em ser ela mesma, mas quase sempre quer emagrecer; mesmo quando não está nada gorda.

Fictício ou não, não sei se acredito ou devo acreditar em tudo que escrevo. Escrevo hoje com raiva, delirando. Escrevo sem pensar muito naquilo que vão dizer sobre o que eu infelizmente digo. Mas parece ser preciso, como uma espécie de sadomasoquismo literário, sofrido; “aromanceado”. Quero escrever sobre os homens que se sentem poderosos; mas estão a cada dia menos homens. Quero escrever sobre as mulheres, que andando seduzindo, e menos sensuais. Fazer um roteiro pornográfico, onde os personagens principais se amam, mas broxam em cada cena. O amor, nos dias de hoje, são de mulheres mal amadas e homens estupidamente sábios. O amor perdeu a graça, tão rápido e instantâneo. Só pode existir pelo álcool, algumas vezes pela droga; outras pela inaptidão certeira de amar.

Desaprendemos amar, essa geração tão infrutífera.

Mas o amor...

Ah! Mas nada melhor do que o amor para acalmar os ânimos. Sentar-se a frente ao mar, olhar pacientemente as ondas. Que frases te digo tão novas? Sempre as mesmas. Mas me escuta com paixão, ouve minhas relíquias. Nós nos beijamos calorosamente. Que planos tão maravilhosos, que amor que reconstrói todas minhas dúvidas; que rosto magnificamente belo.

Olhamos para o Sol, deitando esplêndido. Assim me regozijo de todas as palavras que não disse e me arrependo de todas que nunca deveria dizer.