quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Amores compreendam



Então, olhando para o meu corpo nessa inutilidade, resolvi escrever mais uma carta: Carta sem destinatário certo, mas preciso. Uma carta que reflita sobre o amor, freudiano ou não, cara amiga. Freud pode explicar o vil, mas não me comove. Não me comove suas sublimações, de corpos que se atiram em outros corpos; a fim de enriquecerem seus meios, para fins que não se justificam mais. O amor, como qualquer outro sentimento, não se compensa. Então, na minha inércia, olhando para o tempo que corre, vi sim o amor de forma diferente; mesmo assim ainda indefinido. O conceito do amor, nos séculos, ainda requer um manancial de práticas, entre as mais densas florestas, os mais exóticos animais.

O amor é uma estranhíssima sensação de perda, mesmo quando supõe ganho e recompensa.

Decerto a preguiça, nesses meus dias de infame rejeição ao mundo, tenha me ajudado a acolher melhor o amor, dando-lhe a intensa e verdadeira anistia da hipócrita manifestação de bem-estar. O amor, esse que nos conhecemos vulgarmente como paixão, é o maior retrato de todos os pecados humanos; mas não pode ser classificado como satisfação. O amor que chamamos de paixão, é resultado de emancipações químicas, de olhares curiosos; dores enigmáticas e sabores conflitantes. É alquimia do cigarro na mesa, da comida salgada e saborosa; das conversas sobre os quadros calóricos e intensos de qualquer pornografia vulgar. O amor, que chamamos de paixão, é a redenção da masmorra do corpo, quente e queimando nos dias cotidianos e indigestos.

Mas, dentro da mesmice do balançar da rede, onde me encontro agora; vejo outro amor. Esse amor insaciável na multiplicação de sua divisão. Um amor que não requer contas das horas, nem interferência dos meses; sequer rompimento físico. Esse amor sublime, ágape; divino e bíblico; que por agora nos sacia na ausência; subjuga o básico; determina o infinito. Amor que dá a vitória, nas mínimas coisas, olhar para as nuvens que se formam. Será possível amar alguém com parâmetros tão extravagantes? Amar alguém como se ouve a cachoeira, como quem se infiltra na noite velada em pensamentos utópicos, de voo para o céu estrelado? Amar alguém como o mundo, em sua esfera interplanetária, nos ama?

Amores compreendam, eu nasci  para outro amor.

A carta, que começa ter contornos filosóficos, jamais explicaria o amor para quem quer apenas as entrelinhas dos relacionamentos humanos. O amor aqui, sem requinte de gramática, muito menos encorpado pela boa redação; é mais devaneio que palavra; mais poema que prosa. Portanto, não retornem uma linha sequer para traduzir qualquer sentimento, pois as letras foram ditas ao sabor das ondas; da direção dos ventos; um sono profundo de final da tarde. A carta, como disse, sem destinatário, parece querer mais ainda ser sem remetente, sem determinismo; sem qualquer descrição autoritária; mas assim, desse modo impensado, ser apenas sentida.

Mostrar que o amor pode estar em diversas formas que nunca compreendemos.





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