sábado, 20 de dezembro de 2014

O imprevisível

Sempre desconfiei que as melhores coisas, as alegrias mais sinceras, as risadas mais alegres e os beijos mais gostosos não são calculados, nascem da espontaneidade do amor.
Quando a gente menos espera e de quem a gente menos espera. E quando acontece você começa a perceber os toques sutis que o universo te dava, e até mesmo você. Siiiim! Seu inconsciente descobriu que estava apaixonado antes do seu consciente!
A gente vai se acostumando tanto a se magoar, a fugir, a disfarçar para não cair de novo nas redes do amor que quando cai de verdade nem percebe!
E não adianta calcular o gesto, a fala, o olhar!
Simplesmente acontece, sem perceber dois olhares se cruzam e decidem alí mesmo, sem a nossa permissão, a viver o resto da vida juntos, ou até que o amor chegue ao fim.
bjos

quinta-feira, 27 de março de 2014

Um pequeno afago e uma ligação de madrugada


Preciso de um afago. Sei lá que nome que se pode dar para qualquer carinho. Eu preciso, sei disso. Preciso que me ligue de madrugada, mesmo que por engano. Preciso que me diga alguma coisa que estou querendo ouvir. Preciso de algumas verdades, bem lá no fundo da alma; alguma crítica. Preciso de tudo, menos da indiferença. Precisar assim parece tão piegas, não? Nós, homens, não nascemos para dizer tudo que estamos sentido. Ficamos fracos, indecisos e falidos. Voltarei para o sono, mais alegre com seu pedido de desculpa. Foi um engano, queria ligar para outra pessoa, não é? Mas já que me acordou: como você está? Voltarei aos sonhos, aqueles que não me acordam de maneira assustado. Quero, por momento, suas palavras; tua verdade. Queria tantas coisas, que não sei muito bem relacionar. Amor platônico, que contém um pouco de ódio; que ninguém explica direito. Meu amor funciona mais quando sinto saudade.

Vai deixar um recado?

E você desapareceu. Desapareceu por meses. Pensei que, punindo-me, era eu o culpado. Sou eu, pretensiosamente, inocente. Não existe culpa, não é mesmo? Não te vejo mais por ai, nem tivemos mais conversas tão francas. Bom, conversamos outro dia, mas não dissemos nada além do normal e cotidiano. Somos tão amigos como pensávamos? De ontem para hoje fiquei na dúvida. Eu não acredito em dúvidas, pois elas não são meias certezas. Amigos ou não? Ora. O tempo tem tanto poder, mas não nos serve mais. Não somos amigos, já faz tanto tempo que não nos vemos. Sabe o afago? Ele continua intacto, tão distante de nós. Vai deixar um recado? Eu sei que você discou o número errado, que é de madrugada; que com mil desculpas disse que não queria ter me acordado. No fundo da história, lá no final do capítulo; eu sei que você queria ligar para mim, mas já não há mais jeito. Eu queria um recado, um convite; mas a madrugada é tão dura com nossos desejos. Você deve estar pensando o mesmo que eu: não vale a pena.

Pois é, não notamos que ficamos tão ausentes. A nossa música nunca mais tocou – os poetas sempre me ajudam nessas horas tristes. Não percebemos a mudança da cor do cabelo, nem o regime que deu certo. Não trocamos idéias e palavras novas, que aprendemos com aquele livro que estávamos lendo juntos. (Eu sempre quis escrever bons livros; mas, medianos, ficaram encostados na estante de sua prateleira virtual). Vivemos tanta coisa separados que não há realmente qualquer novidade que, de uma hora para outra, nunca mais trocássemos meia dúzia de palavras. É tarde demais, eu sei. Mas a madrugada é dia de insônia, hora de pesadelos; rodar na cama sem destino. Ainda quer fazer parte da minha vida? Eu só preciso hoje de um afago, de um carinho; para tudo isso que as mulheres dão nomes interessantes e os homens acham tão bregas.

A vida tão certa é tão ridícula, mas essencial.

Estou precisando ser pedinte, pedante. Vai deixar um recado? Não importa a data, nem as novidades. Ligue, escreva e sorria. A novela está chata e a comida sem sal. Tem alguma música que não sai da sua cabeça? (Nessa hora o personagem sai da cena, fica apenas a mesa e o narrador. Luz que caminha junto ao som do rádio que toca uma música da Elis Regina. Não seu qual delas, mas é triste. E num lance qualquer estou dormindo, sem que ninguém perceba). Estou com aquela saudade que passa rápido, que dá uma sensação de cansaço na hora do sono, como coisa que não aconteceu, mas é sonho que poderia ter sido. Estou precisando mesmo que lembre de mim, pelo menos as coisas boas.

Vai deixar recado?









quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um cigarro, por favor

 

Daí você acorda três horas da manhã. Lá fora um silêncio modesto. Sinto sede. Queria um cigarro. Levando da cama e vou até a janela. Olho para a cama vazia: você não está. Quanto tempo faz? Não sei. Não consigo determinar certas mudanças na minha vida.  A solidão como tema principal das minhas queixas é coisa recente entre os amigos, mas não sei quanto tempo faz. Nunca toco no seu nome, mas todos sabem minha verdadeira aflição. Queria um cigarro nessa solidão. Volto para a cama, procuro um livro na cabeceira: tem uma bíblia pequena que eu ganhei de um amigo protestante. Será que a história está resumida? Tem outro livro, que eu parei na metade. Uma revista sobre celebridades. A revista é herança sua.

O livro?

Vou até a cozinha. Não estou com fome, mas também não estava com sono. Poderia trocar a pizza gelada por uma noite bem dormida? Sinto sua falta, Juliana, mas não quero dizer isso para ninguém. Escreveria um livro sobre minha mal escrita relação com você? Talvez mereçamos essa consideração. Um pedaço de pizza, um copo de água gelada. Quanto tempo eu não durmo direito? Vou até a sala, procuro algum filme interessante na estante: “Terceiro Tiro”, “Paciente Inglês” e “Zabriskie Point”. Confesso que não tive coragem de ficar com você, enquanto você assistia aos filmes. Dormi antes dos dez minutos. Sabe? Naquela época eu trabalhava muito, descansava pouco. Dormir em seus braços era uma coisa que me deixava vivo.

Somos antagônicos, muito diferentes. Mas ambos, hoje, tão igualmente solitários. Queria te ligar, mas você não vai me atender. Quer saber? Concordo que realmente o remédio é o tempo. Não que eu tenha qualquer esperança que voltaremos a formar um casal feliz. Esse negócio de tempo é uma grande bobagem, na maioria das vezes. Entendo; muitas vezes esse afastamento serve para colocar a cabeça no lugar, mas é terrível quando desalinha também o coração.  No sofá da sala, sem sono e sem fome; nada na televisão: nesse momento penso em você, mas penso diferente. Você não é mais aquela pessoa que eu amava,  e qualquer coisa que fizéssemos agora; seria um recomeçar do zero, um renascimento, que poderia vingar ou não. Seria como se fosse ter que apreender amar você novamente.

Quer saber? Acho que você está acordada pensando a mesma coisa que eu. Levanto do sofá, corajosamente. Você na cama ainda acordada. Você me viu cheio de febre, fome e abstinência? Odeio saber que você está ai, como se não estivesse. Vamos nos ajeitar? Senão vou embora para sempre. Eu seguro o seu ombro, olhamos um para o outro. Odeio quando você chora, odeio quando eu não consigo chorar. O que fizemos de nossas vidas? Onde estão nossos sonhos?  Nossos sonhos são tão distantes? Queria alguém para me acompanhar, quer alguém para assistir um misero filme. Vamos dormir? Eu te abraço, mas não consigo dormir.

De manhã: a vida como nunca. Tudo muito igual. Saímos juntos para o trabalho. Fico no meio do caminho, você segue adiante. Vamos almoçar juntos hoje? Eu não posso, tenho uma reunião; você não pode, tem uma desculpa tão real quanto a minha. Nós nos evitamos. Mas isso é fácil, de dia; quando nossa cabeça está cheia de problemas, resoluções e números. É fácil quando estamos com outras pessoas, pensando em outras coisas. Mas quando estamos juntos? Quando no quarto, você decide apagar a luz do abajur e não diz uma única palavra?

Ia perguntar se você tinha um cigarro, mas estamos longe novamente.




quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Amores compreendam



Então, olhando para o meu corpo nessa inutilidade, resolvi escrever mais uma carta: Carta sem destinatário certo, mas preciso. Uma carta que reflita sobre o amor, freudiano ou não, cara amiga. Freud pode explicar o vil, mas não me comove. Não me comove suas sublimações, de corpos que se atiram em outros corpos; a fim de enriquecerem seus meios, para fins que não se justificam mais. O amor, como qualquer outro sentimento, não se compensa. Então, na minha inércia, olhando para o tempo que corre, vi sim o amor de forma diferente; mesmo assim ainda indefinido. O conceito do amor, nos séculos, ainda requer um manancial de práticas, entre as mais densas florestas, os mais exóticos animais.

O amor é uma estranhíssima sensação de perda, mesmo quando supõe ganho e recompensa.

Decerto a preguiça, nesses meus dias de infame rejeição ao mundo, tenha me ajudado a acolher melhor o amor, dando-lhe a intensa e verdadeira anistia da hipócrita manifestação de bem-estar. O amor, esse que nos conhecemos vulgarmente como paixão, é o maior retrato de todos os pecados humanos; mas não pode ser classificado como satisfação. O amor que chamamos de paixão, é resultado de emancipações químicas, de olhares curiosos; dores enigmáticas e sabores conflitantes. É alquimia do cigarro na mesa, da comida salgada e saborosa; das conversas sobre os quadros calóricos e intensos de qualquer pornografia vulgar. O amor, que chamamos de paixão, é a redenção da masmorra do corpo, quente e queimando nos dias cotidianos e indigestos.

Mas, dentro da mesmice do balançar da rede, onde me encontro agora; vejo outro amor. Esse amor insaciável na multiplicação de sua divisão. Um amor que não requer contas das horas, nem interferência dos meses; sequer rompimento físico. Esse amor sublime, ágape; divino e bíblico; que por agora nos sacia na ausência; subjuga o básico; determina o infinito. Amor que dá a vitória, nas mínimas coisas, olhar para as nuvens que se formam. Será possível amar alguém com parâmetros tão extravagantes? Amar alguém como se ouve a cachoeira, como quem se infiltra na noite velada em pensamentos utópicos, de voo para o céu estrelado? Amar alguém como o mundo, em sua esfera interplanetária, nos ama?

Amores compreendam, eu nasci  para outro amor.

A carta, que começa ter contornos filosóficos, jamais explicaria o amor para quem quer apenas as entrelinhas dos relacionamentos humanos. O amor aqui, sem requinte de gramática, muito menos encorpado pela boa redação; é mais devaneio que palavra; mais poema que prosa. Portanto, não retornem uma linha sequer para traduzir qualquer sentimento, pois as letras foram ditas ao sabor das ondas; da direção dos ventos; um sono profundo de final da tarde. A carta, como disse, sem destinatário, parece querer mais ainda ser sem remetente, sem determinismo; sem qualquer descrição autoritária; mas assim, desse modo impensado, ser apenas sentida.

Mostrar que o amor pode estar em diversas formas que nunca compreendemos.