segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cupido de casa não faz milagres


É tão difícil dar certo. Mas vamos tentar, não é mesmo? Ontem mesmo tive a experiência do improvável. Longe de mim a história, mas acabei participando; sem querer. Então estava lá o meu amigo, olhando para o nada; para a noite. Dizem que ele é aluado, mas eu não acredito. Ele estava sem rumo, sem vontade; sem desejos. Eu disse que a pior coisa na vida de um homem era ficar sem qualquer desejo. Ele sorriu, fingiu que não era com ele. Amigo, vou dizer uma coisa, ou você casa ou sua vida vai virar um inferno. E dizem tão mal sobre o casamento, pensei que fosse o contrário: inferno é casar.

Não, não pense assim; meu amigo. Requer prática, habilidade e uma dose de paciência. A medida depende de cada casal: alguns dizem que a paciência é a única solução para o casamento. Eu perguntei para ele, enquanto ele olhava para o teto: Você é um sujeito paciente? É que eu tenho uma amiga, que está devidamente solteira; que se interessou por você. Mas sabe como é? Ela não tem paciência com pessoas sem paciência. Então ele riu e continuou olhando para o teto. Paciência? Perdeu quando sai do ventre.

Não ia dar certo.

Mas eu sou astuto, quase cupido. Não dei o menor valor para a impaciência dele. Eu tinha esperança em sua melhora. Fui até a garota, que também olhava para o teto. Uma coisa boa em comum já é um começo daqueles. Falei novamente aquele embaraçoso negócio de paciência e coisa e tal. Pasmem! Ela também não tinha nenhuma paciência. Mas não me preocupei com isso, tudo estava devidamente ajustado. Meu amigo ficando com minha amiga, fim da solidão de ambos; que me incomodavam nas noites quentes de verão e nos domingos entediados de inverno.

Os olhares se encontraram, amor sempre é assim. Dane-se a paciência. Dane-se qualquer habilidade nos relacionamentos afetivos. Ele parou de olhar para o teto, ela também. Conversaram por intermináveis duas horas. A festa se esvaziando. Não quero mais beber, nem comer; nem dançar. Quero logo saber se posso ir para minha casa. Quem me dera ter um amigo agora, que mentisse coisas sobre mim. Meus amigos já se foram. As amigas me conhecem bem: elas não querer se apaixonar por mim. Terrível casar comigo, tenho certeza.

Os dois conversando. Papo longe de acabar um dia. Papo e mais papo. Começa o namoro. Já dizem que sou padrinho de casamento. Padrinho da relação. Quanta honra. E namoro vai e vem o noivado. E com o noivado mais esperanças. E com esperanças os filhos. Casamento marcado. E longos anos. Bodas? Sim. Bodas. Eu ali, sempre presente; sempre disposto; sempre aparando as longas discussões sem paciência. Sou um pouco culpado, verdade. Mas que honra ver os filhos, ver os netos e assim por diante.

Hoje sou eu quem olha para o teto, impacientemente.

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