Hoje é dia de festa. Mas, bem, estou
sozinho. Sentado, vendo a televisão. Eu me levanto, às vezes, para caminhar
pela sala. Não há programação para os solitários, apenas falatório. Novela,
telejornal e jogo de futebol. Não preciso prestar atenção em nada, não me dizem
nada. Não preciso de dinheiro, nem de conselhos; mas preciso de você, um pouco.
Preciso nem que seja uma ligação, um comentário qualquer; um recado. Hoje é dia
de festa, seria dia de festa se não estivesse faltando tantas coisas. Senão é
tédio. E eu, que gosto de você, ainda; o que direi aos meus dias daqui para
frente?
O meu futuro repleto, os meus dias cheios e
minha paciência embora.
Tenho algumas reclamações piores sobre a
vida, mas hoje prefiro me manter tão sereno quanto inaudível. Sabe? Resmungando para mim, bem baixo e indecifrável
som. Mulheres odeiam homens reclamando, vice-versa. Mas nós suportamos melhor
uma mulher reclamando. Amamos mesmo assim. E eu, que tão diferente de mim mesmo
nos últimos anos, talvez, por relapso; não tenha conseguido te agradar. Por que
foge? Ora. Não preciso de resposta, mas preciso de solução. Eu sei, vai chegar
uma pessoa, daqui a pouco, vai bater na porta; mas não é a pessoa que eu amo.
Amor é complicado. Mulheres odeiam homens que reclamam do amor. Homem que ama
muito é homem com problema sério. Mas, diferente do que possam querer, ou
imaginar; já me adianto: não amo. Eu apenas amo amar; amo sofrer quando posso;
amo a saudade de um grande e injustificável amor. Amo ter saúde para reclamar
do amor. Amo suas reclamações.
Coisa minha, não serve para o gênero.
Mas, de repente, a porta abre. E aquela
pessoa que eu não amo, ou que penso não amar; vai ser o amor da minha vida.
Daqui e em poucos instantes. Até a hora que não for mais. Amor instantâneo e
prático. Até a hora que sair pela porta dizendo que nunca mais vai voltar. Não
vá embora! Penso com sofreguidão, penso na solidão; penso na festa. Eu me
adiantando a tudo que pode acontecer. E quando for embora, vou sentir a mesma
saudade; o mesmo amor; e dar a mesma explicação absurda para meus sentimentos.
Amo no sentido completo, mítico. Amo não uma pessoa, uma mulher de cabelos
longos ou curtos; amo as mulheres, em geral. Todas. Que
me deixaram ou não. Amo as mulheres como agora te amo, creia em minhas
palavras.
Ela joga o presente no chão. Não que tenha
sido caro, mas no momento foi um desperdício. Mulheres não adoram presentes, elas adoram a
situação em que estão recebendo o presente. Mulheres são menos materialistas do
que podemos imaginar. Mulher ama o dinheiro quando traz o sossego, a explicação
para a vida e o conforto. Mas não ama alguém por dinheiro, ama por conforto e
segurança. Não estou falando de todas as mulheres, mas aquelas com quem me
relacionei. Bobagem. É uma tremenda bobagem pensar que as mulheres só pensam no
dinheiro. Ela pega o presente no chão, arrependida. Eu seguro seus braços: “Vamos
assistir a um filme? Comer alguma coisa? Você está nervosa. Não acredite em
tudo que dizem sobre mim”.
Eu sei que ela vai embora daqui a pouco.
Hoje seria nossa festa. Dois se abraçando,
se beijando com a música. Não é preciso muito para qualquer diversão. Quando há
amor, a festa é imune ao marasmo, ao silêncio e a embriagues. Nós bebemos mais
do que podíamos, e eu sei que ela vai embora. Festa: eu me sinto bem sozinho,
essa televisão ligada; o amor incondicional. Amo todas as mulheres, mas o amor
de apenas uma: aquela que está comigo. É preciso ser tão ilógico quando se fala
sobre o amor? Menti em alguns momentos, mas não podia ter mentido agora: hoje
era dia de festa. Acabou sendo uma briga. Idiota, sem sentido. Imperdível,
dizem os vizinhos.
Não estarei mais quando a campainha tocar
por duas ou três vezes.
Ahhhh pessoa! Como eu gosto do que você escreve!!! Lindo!
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