segunda-feira, 7 de maio de 2012

Manda quem tem juízo

Ando de metrô frequentemente. Todos os dias: faça chuva ou sol. Nessas minhas andanças já vi de tudo, ou quase tudo. Pois bem, um fato tem chamado minha atenção. A idéia de que o mundo anda mesmo mudado. Homens e mulheres, juntos e separados. Por agora pretendo apenas falar do assunto de forma simplista, homem e mulher como conhecemos há milênios. Sei lá, deve haver homossexualidade desde os primórdios, mas não sei muito sobre esse assunto. Assim, por mais que eu queira falar sobre todas as relações amorosas possíveis e imagináveis, meu mundo e minha visão e (imaginação) ainda é heterossexual. Básico, majoritário e histórico.

E na relação entre homens e mulheres, propriamente dita; as coisas também andam se invertendo. Já deixei meu recado aqui para os homens alfa e os betas. Sentimental, rude; machista e feminista. Os homens se transformaram de acordo com a demanda. As mulheres queriam homens mais participativos em atividades que antes eram consideraras “coisas de mulher”. Não existe mais isso: balela ultrapassada. Homem passa a camisa, lava a louça e leva o filho para escola. Não todos; é claro. Mas uma grande parte. Homem chora com novela, se emociona com uma música de filme de comédia romântica e vibra com o herói ou a heroína de qualquer história. As novelas, companheiras de nossas avós, hoje são comentadas por marmanjos barbados nos botecos (hoje é maneira de dizer, esse fato já é bem conhecido dos sociólogos há décadas).

Enfim, voltemos ao metrô.

Estava eu tirando aquele cochilo da tarde dentro do metrô. A viajem é longa, dá para sonhar. O som do metrô também  é propício para uma soneca. De repente eu vejo chegando um casal. Eram casados. Sentam-se lado a lado. Conversam alguma coisa, o homem ri. Ficam em silêncio alguns minutos. Ele pega um livro e abre, ela faz a mesma coisa. Eu sou muito curioso sobre a literatura alheia. Sempre que posso dou uma bisbilhotada em algum parágrafo, título e autor. Nesse caso pude ver apenas a capa. O que ela estaria lendo? Zíbia? Mulheres adoram Zíbia. A Guerra dos Tronos? Outra adoração feminina. E ele? A biografia de Steve Jobs? Ou coisa do gênero? Que nada: ela estava com Tropa de Elite e ele Ame o que é seu.  Não estudo teoria literária, tampouco teoria dos leitores, mas algo ali me pareceu muito esquisito.

Teriam trocado o livro sem perceber? A sonhadora mulher estaria lendo o livro que estava na mão dele, o realista homem lendo o que estava com ela? Homens são sanguinários e violentos ainda? Mulheres são sonhadoras? Meus parâmetros se perderam, eu acho. No mundo de hoje, o que parece tão normal para uns é conversa fiada de conservadores para outros. Não sou nenhum conservador, mas parei no tempo dessa história. Homens e suas características se foram, assim como as características das mulheres. E se pensarmos num prognóstico para o futuro, existe uma forte tendência para o erro. O ser humano continua sendo um ser imprevisível.

Não sei se é uma tendência. Talvez seja uma marca de nosso tempo. Homens e mulheres em atividades tão próximas: a rudez de um motorista de caminhão e a leveza de um fisioterapeuta. O que antes tinha uma demarcação no tempo e espaço, como sendo coisa de mulher; hoje flutua no cotidiano masculino: Leve, livre e solto. Por outro lado, as cercas de um terreno lamacento, como sendo coisas de homem; hoje recebe pequena semente florida das mulheres.  Ainda temos limites do meridiano “coisa de homem” e “coisa de mulher”, mas diferente de outras épocas, há cada vez mais um intercâmbio entre os lados opostos, num grande e variável onda de gestos, gostos e ações. Ser homem e ser mulher não está mais determinado por critérios tão pequenos do cotidiano, mas por disposição afetiva, sexual ou conchinha no sono numa noite fria.

Chegamos à estação onde eles deveriam descer. Ela se levanta primeiro, ele acompanha. Mais do que a literatura como indicador daquele casal, determinadas ações também mostram quem realmente manda. E diferente do que nós, homens, imaginávamos; a mulher sempre mandou na relação.

O problema é que agora elas não fazem a menor questão de esconder isso.

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